segunda-feira, 28 de setembro de 2015

O IDIOMA FORTALECE OS LAÇOS INTERCONTINENTAIS

Reproduzimos a carta que o escritor brasileiro Paulo Soriano enviou ao professor Estraviz para acusar recibo do livro Conversas com Isaac Alonso Estraviz.

Paulo Soriano e Isaac A. Estraviz em Santa Marinha de Águas Santas


CARTA

Preclaro amigo Isaac:
Foi com imensa satisfação que, ao chegar ao trabalho, à noite, me deparei com a encomenda que, desnudada, revelou o livro Conversas com Isaac Alonso Estraviz.
Pus-me a lê-lo de imediato. A leitura, por agradável e interessantíssima, produziu-se por longas horas, que se passaram tão rapidamente que eu mal percebi.
Foi muito bom conhecer mais sobre as suas origens e trajetória de vida, tão imbricada com a da Galiza contemporânea.
Já ao início, encantou-me - e não poderia ser diferente -  as histórias de mortos contadas pelos mais velhos, a Santa Companha e os Mouros e Mouras...
Também achei interessante o método coercitivo de empecilho de comunicação em galego entre os oblatos, mediante o engenhoso (e cruel) emprego da moeda "cadela".
De fato, há tantas coisas interessantes. Pelo seu trajeto de vida pude assimilar muito mais o problema galego, desde a ditadura de Franco aos dias atuais.
Decerto que me envergonhou um bocado o fato de o amigo ter sido furtado no Rio de Janeiro, do qual decorreram tantas  dificuldades...
Mas há,  em contraponto, tantas coisas interessantes, que me custaria demasiado enumerá-las, a exemplo dos seus tempos de monastério, da luta derredor do dicionário, da sua participação importantíssima nos primórdios do Acordo, da criação da AGAL, de sua relação com Ricardo Cavalho Calero e outros importantes intelectuais galegos, do primeiro batizado em galego, a par das deliciosas anedotas.
Amigo, muito obrigado. Fiquei imensamente feliz com o presente!  Este me deixou ainda mais orgulhoso de  ser seu amigo.
Se você puder, agradeça, também,  por mim ao Penabade.
Peço que dê um abração na Manuela.
Um forte abraço.
Paulo Soriano

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

COMISÁRIO DA EXPOSIÇOM "PALABRA E MEMORIA"

Foto: Rodomiro Teixeira

Coincidindo com a entrega dos prémios Arraiana Universal, Entidades Arraianas e Arraiano Maior, o professor Isaac Alonso Estraviz recolheu na capela da Nossa Senhora do Jurês um novo reconhecimento ao seu incansável labor de dinamizador cultural. Trata-se do nomeamento de "Comisário de Honra da Exposiçom "Palabra e Memoria", impulsada pola "Área de Innovación Educativa" do Instituto Perdouro de Burela em colaboraçom com as investigadoras Aida López Vale e Alba García Pico.


Foto: Artur P.

Dado o interesse que o grande lexicógrafo galego tinha mostrado polo património documental dos nossos cemitérios, o professor Bernardo Penabade -em representaçom da intervençom educativa Modelo Burela- entregou-lhe umha cópia dos materiais da exposiçom "Palabra e Memoria", que recolhe mais de meio centenar de fotografias de epitáfios inscritos em lápides dos campos-santos das freguesias dos concelhos de Burela, O Vicedo e O Valadouro.
Alonso Estraviz manifestou públicos parabéns para um trabalho "absolutamente necessário, o de dinamizar o uso do idioma galego nas notas necrológicas e na linguagem das lápides" e comprometeu-se a levar a exposiçom a vários concelhos de Ourense, entre eles Alhariz, Trasmiras e Qualedro.
A iniciativa "Palabra e Memoria", incluída no Modelo Burela, começou em 1997 quando um vizinho desta localidade da Marinha procurava modelos para redigir o epitáfio para um parente falecido naquela altura. Após a visualizaçom das mais de 1600 lápides do cemitério local, inaugurado em 1912, descobriu que a do seu familiar seria a primeira em ser escrita em idioma galego (o falado habitualmente por um 87% da populaçom do citado concelho).

OUTRAS REFERÊNCIAS

Palabra e Memoria (Sargadelos)
Modelo Burela (Entre os minutos 27 e 30)

domingo, 20 de setembro de 2015

Fomos, somos e seremos arraianos

Momento em que o Arraiano Maior começou o exercício da responsabilidade. 
A sua primeira medida foi compartilhar o poder da aguilhada com o conjunto dos premiados
 e com representantes da entidade organizadora  


Isaac Alonso Estraviz (*) 


Muito obrigado, caros amigos, por este reconhecimento que me enche de alegria. Senti sempre um grande orgulho de ter nascido nesta terra à que quero e amo apaixonadamente. Uma terra com tantas idílicas paisagens e a língua mais bela e rica das derivadas do latim!!! Nestes montes as nossas gentes ainda continuam a falarem quase como os latinos que cá estiveram!!! Somos uns privilegiados com o grande tesouro cultural e linguístico que nos legaram os antepassados. Foram muitos séculos de menosprezo e colonialismo. Ainda hoje querem varrer-nos do mapa. Mas tudo está a mudar e nós devemos lutar com paixão para que a nossa língua e cultura floresçam como em tempos passados.

Quando era criança ouvi muitas vezes a meu pai dizer, ao vir o vento do oeste, “sopra dos mistos”. Nunca soube de que se tratava. Hoje sei que estava a falar do Couto Misto. Pena que os governos espanhol e português estragassem uma autêntica república popular. Aos doze anos deixei Vila Seca por Usseira. Com 23 anos voltei uns dias. Com 24 obrigaram-me a abandonar Galiza. Era o 26 de outubro de 1960. Às 7’30 passávamos da Galiza às Asturias, vendo um sol-pôr estupendo desde a ria. À uma da manhã passávamos polos picos de Europa e às 3’30 do 27 chegávamos a Viaceli.

No 1973, estando em Madrid, viajei por terras andaluzas e entrei em Portugal por Vila Real de Santo António. Percorri Portugal até ao norte. A partir de aí foram inúmeras as vezes que andei por terras portuguesas marcando cada ano o terreno a percorrer nas férias de verão. Desde então comprovei, sempre, que o povo português é o povo mais humano, mais social e mais serviçal do mundo. Sempre constatei que os portugueses são galegos aperfeiçoados e nesse país sempre me senti completamente à vontade.

Por volta de 1980 decidi ir a Chaves e levar comigo meu sobrinho Manolo. Ele ia muito contente porque era a primeira vez que ia ao estrangeiro e ouviria novas falas. Cada certo tempo perguntava-me quantos quilómetros faltavam para a raia. Uma vez passada, e depois de termos andado bastante, perguntava-me quando chegavámos ao estrangeiro. Eu respondi que levávamos já bastantes quilómetros e ele “mas se tudo continua a ser o mesmo”. Depois em Chaves estivemos nas lojas, nos bares... ele falando com todo tipo de pessoas e elas com ele sem necessidade de mudar nada no seu falar. À volta, seu pai perguntou-lhe como se entendera com os portugueses e ele respondia: “mamãe, papãe, os portugueses falam como nós, os portugueses falam como nós”. Por certo comprara uns colares e umas campainhas para as vacas das melhores que se viram em Vila Seca.

No ano 1985 José Paz e eu paramos em Ponte de Lima. Demos uma volta polo passeio de árvores à beira do rio e encontramos duas meninas encantadoras, Guida e Olga. Falamos-lhe do entrudo, dos maios, da Galiza, de tantas cousas... A Guida disse-nos que tinham uma professora vinda do Porto que lhes falava todos os dias da Galiza. Perguntamos se tinham visitado a nossa terra. A resposta delas foi “Quem dera!!!”. Amavam apaixonadamente a nossa terra e a nossa cultura ainda sem a conhecer pessoalmente. A minha saudade levou-me novamente a percorrer quilómetros e quilómetros: Amarante, Chaves, Boticas (bebendo aquele inesquecível vinho dos mortos), Curalha, Carvalhelhos, Montalegre, Jurês, este paraíso terrenal, Braga, Barcelos, Póvoa de Varzim, Vidago, Pedras Salgadas, Vila Real, Vila Pouca de Aguiar, Ribeira de Pena (onde alunos galegos e portugueses compartiram tudo, chegando num momento dado a eleger uma nova câmara municipal onde uma portuguesa ficou eleita presidenta da câmara e um galego vicepresidente). Para eles a raia estava só na cabeça dos maiores. Logicamente temos andado muito polo Porto, também por Barcelos, Praia de Esposende, Coimbra, Figueira da Foz, Foz Coa, Torre de Moncorvo.... 

Indo uma vez para Castro Leboreiro José Paz, Manuela Ribeira e eu, chegamos a descobrir naqueles enormes penedos o corpo e as faces dos mais ilustres pessoeiros da geração nós: Otero Pedrayo, Vicente Risco... e o mais rico jazigo de mamoas e dólmens em território galegoportuguês, e pessoas, como os professores Américo Rodrigues e José Domingues, de fala local mais da parte de cá da raia do que do chamado português oficial.

Polos anos oitenta percorremos quase todo o norte português, deixando em cada lugar umas frases: 30 de janeiro de 1986, na Praça da Galiza de Viana do Castelo, no monumento a Castelão, “A nossa língua floresce em Portugal” Castelão; o 17 de maio de 1986 em Braga, na Casa dos Crivos, “A nossa língua floresce em Portugal” Castelão; o 2 de agosto de 1986 em Vila Nova de Cerveira, na mesma lápide: “A nossa língua floresce em Portugal” Castelão e “A minha pátria é a língua portuguesa” F. Pessoa; o 27 de setembro de 1986 em Arcos de Valdevez, em lugar de uma placa cravada numa pedra, fez-se um monólito subindo por um lado água e descendo polo outro, com as as frases de Castelão (Sempre em Galiza)e Pessoa do Livro do Desassossego e outras duas mais, uma de Antom Vilar Ponte “Quem não ama Portugal, não ama a Galiza” (Pensamento e sementeira) e outra do escritor português António Ferreira “Floresça, fale, cante, ouça-se e viva a portuguesa língua”; seguidamente as mesmas frases no Pórtico da Cãmara municipal de Ponte da Barca o 15 de março de 1987; o 13 de junho de 1987 na Casa da Cultura de Vila Verde; finalmente, teve lugar a mesma homenagem numa rocha de uma das entradas ao Castelo de Guimarães... 

Numa das minhas viagens por terras portuguesas, atravessei uma ponte sobre o rio Beça. Olhando atentamente para aquela lindíssima ponte observei como uma menina vinha com umas chancas penduradas do ombreiro e caminhando descalça. Quando acomodou as vacas à beira do rio e começaram a pastar, a menina pôs-se alegremente a cantar. Com esta anedota, real, comecei em 1987 na Corunha, perante um júri bastante contrário às minhas ideias linguísticas, a minha intervenção do chamado “encerramento”. 

Nunca usei boina, aguilhada sim. Mas como eu e os nossos touros nos entendíamos perfeitamente de jeito a ir muitas vezes a cavalo deles e o mesmo acontecia com as ovelhas e os carneiros, que me seguiam fielmente, não precisei fazer uso dela. Logicamente, hoje é um simples símbolo.

Fomos, somos e seremos arraianos. Comprometemo-nos solenemente a sermos transmissores deste património e legado aos nossos sucessores.


(*) Palavras de agradecimento do Arraiano Maior. O discurso foi pronunciado às 18:00 horas do día 19 de setembro de 2015 na capela da Nossa Senhora do Gerês em Lóvios.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Publicamos documento histórico (de 14-III-1959)

Este documento histórico conservado na Fundación Penzol -a quem agradecemos a gentileza- elaborou-no dentro do Mosteiro de Usseira um monge de votos perpétuos chamado Santos Alonso Estraviz (Santos era o nome que Isaac recebera desde o momento de entrada na vida monástica). 
É o recordatório das duas primeiras missas oficiadas polo novo sacerdote: a primeira no Seminário de Ourense (14-III-1959) e a segunda dentro do própio mosteiro no día seguinte (15-III-1959).


"-Eu ordeneime em 1959. Fiz lembranças em galego para recordar a cerimónia. Foi meio ano mais tarde após ter finalizado os estudos. Como ainda tinha 23 anos, decidi não pedir licença a Roma e esperar para o fazer com os 24 cumpridos.
-A cerimónia celebrou-se em Usseira?
-Não. Estava em Usseira, mas a ordenação foi no Seminário Maior de Ourense. A ordenação podia fazer-se no própio mosteiro ou noutro lugar.
Neste caso concreto, nós coincidimos com outros sacerdotes de Ourense e a cerimónia celebrou-se n o Seminário. Depois retornámos imediatamente ao mosteiro.
Desde o momento em que te ordenavam sacerdote, no dia seguinte podias cantar missa em Usseira e depois -se tinhas licença-, podias ir fazê-lo à tua aldeia. O normal era ficar em Usseira. A vida desenvolvia-se normalmente dentro."

terça-feira, 15 de setembro de 2015

ARRAIANO MAIOR

SÁBADO, 19 de SETEMBRO
14:00 horas
Restaurante O Cubano
LÓBIOS
COMEMOS COM 
ISAAC ALONSO ESTRAVIZ
 ARRAIANO MAIOR de 2015


Isaac Díaz Pardo e Isaac A. Estraviz no IGI (Foto: I.C.)


POSTERIORMENTE
às 5 da tarde
ACTO DE ENTREGA DO PRÉMIO
ARRAIANO MAIOR
O professor Estraviz com alunado das Aulas Sénior da Universidade de Vigo


Isaac Alonso Estraviz: Arraiano maior 2015

(Manuel Rivero Pérez)


Para a cultura galego-portuguesa, e tamén universal, o próximo día 19 de setembro é un día grande dos grandes, moi importante para todos nós, dado que, corresponde escoller esa persoa de ben, referente ético, xeneroso, intelectual e comprometido coa cultura e o territorio arraiano.

Este ano o Arraiano Maior é Isaac Alonso Estraviz e o lugar de encontro é ese espazo máxico e sagrado da capela da Nosa Señora do Xurés, un dos puntos cósmicos do mundo arraiano.

Isaac, ten unha historia de vida moi significativa, ampla, plural e creativa, que nos está a aportar valor de forma continua e con insistencia.

Home sincero, humilde, e auténtico, en quen non hai dobrez nin engano. Intelectual comprometido, fonte de sabedoría, el é nestes momentos o Pastor Maior da Palabra do mundo galego-portugués.

Isaac traballou sen descanso para que o galego recuperase o seu esplendor e deixase de ser unha lingua empobrecida, tolleita e doente.

Home de formación sólida e ampla nos campos da lingüística, da literatura e da historia. Deste enorme caudal creador destaca esa obra maestra em papel e internet que é o Dicionário da Língua Galego-Portuguesa (o e-Estraviz no Portal Galego da Língua, con xogos didácticos para brincar coas palabras, atualmente máis de 133.000).

Este Dicionário, dirixido maxistralmente e actualizado pola mao experta do mestre-artesano Estraviz- é unha explosión de luz no universo da língua.

Isaac, nós estamos orgullosos de ti, sabemos que:

1. Es valente para mudar todo aquilo que hai que mudar e se pode mudar.

2. Tranquilo, por esperar para mudar aquilo que hai que mudar e de momento non se pode. 

3. Sabio, por saber diferenciar unha situación da outra. 

Ás túas múltiples facetas de profesor, lexicógrafo, tradutor, editor e activista cultural, xúntase a de Arraiano Maior.

Estamos seguros de que a túa dimensión intelectual -ese saber dinamizar- axudará a crear as sinerxias que sirvan de guía a modo de farol e marquen o rumbo dos arraianos neste ano apaixoante que temos por diante.

Amigo Estraviz, por ser como es, sempre terás a nosa admiración, gratitude e cariño.


Nota: o preço do menu é de 15 euros. SMS ou whatsapp: 676 59 00 35